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ESTUDO SOBRE IMPACTOS DA INADIMPLÊNCIA DE CRÉDITO
EM UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO: O CASO DE UMA AGÊNCIA
Pedro Luís Büttenbender
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Lucas Juver
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Ariosto Sparemberger
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Nelson José Thesing
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Recibido: 25/10/21
Aprobado: 18/11/21
RESUMO
Em tempos de incertezas quanto ao futuro, onde uma pandemia jamais imaginada
assola as economias de todas as nações, as instituições financeiras buscam arduamente manter
seus resultados e colaborar com a vida financeira das pessoas. Neste horizonte, o ciclo de
crédito surge como agente altamente impactante para que estes resultados não fiquem
comprometidos, pois as instituições precisam cada vez mais emprestar, porém precisam mais
do que nunca que as pessoas honrem os compromissos assumidos. A partir disso, este trabalho
apresentará um estudo sobre os impactos da inadimplência de crédito em uma cooperativa de
crédito: o caso do Sicredi União RS - Agência Santa Rosa Centro. Para atingir os objetivos
principais propostos neste trabalho, serão apresentados e estudados os perfis de associados
que estão em situação de inadimplência, considerando os tipos de crédito concedidos, as
garantias vinculadas, a forma de análise para concessão, a idade dos devedores e a
comprovação de renda destes associados. O embasamento teórico apresentará conceitos que
servirão como base para o fomento dos objetivos específicos do trabalho. Num primeiro
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Doutor em Administração, Mestre em Gestão Empresarial. Professor e pesquisador do Programa de Pós-
graduação Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional da UNIJUÍ. Orientador do Estudo. E-mail
pedrolb@unijui.edu.br.
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Pós-graduado do Curso Lato Sensu MBA em Gestão de Cooperativas /UNIJUI. Formado em Administração
(FEMA, 2013): E-mail: lucas.juver@gmail.com.
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Doutor em Administração, Professor e pesquisador da UNIJUÍ, E-mail ariosto@unijui.edu.br.
4
Doutor em Doutor em Integração Regional. Professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação Mestrado e
Doutorado em Desenvolvimento Regional da UNIJUÍ. E-mail nelson.thesing@unijui.edu.br
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momento, se estabelecerão detalhamentos sobre o cooperativismo, o cooperativismo de
crédito e um breve histórico do Sicredi União RS Agência Santa Rosa Centro, que servirá
como base para o estudo. Na sequência, detalhamentos e debates vinculados a planejamento,
consecução, risco de crédito, análise de crédito e também riscos de mercado relacionados a
prática de taxas, denotarão o desenvolvimento do estudo. Partindo para a metodologia
empregada, uma pesquisa por amostragem identificou 400 casos de inadimplência de crédito
para pessoas físicas na agência, onde 100 casos foram selecionados aleatoriamente para
balizar o estudo. A análise dos resultados trouxe importantes constatações, destaque para a
comprovação de renda, visto que 48% dos devedores não possui comprovação formal de
renda. A análise dos créditos também determinou números importantes, pois 43% dos casos
de inadimplência estão associados aos chamados créditos massificados. Importante ressaltar o
elevado percentual de casos ligados à renegociação de dívidas, com 62%. As garantias
vinculadas as operações, onde 46% possui e 54% não possui garantia, bem como a faixa etária
dos associados, trouxe números interessantes para o desenvolvimento do estudo, onde o
público jovem responde pela maior concentração de inadimplência, com 42% dos casos.
Palavras-chaves: Crédito, Inadimplência, Cooperativa, Gestão, Resultados.
ABSTRACT
In times of uncertainty about the future, where an unimaginable pandemic devastates
the economies of all nations, financial institutions seek hard to maintain their results and
collaborate with people's financial lives. In this horizon, the credit cycle emerges as a highly
impactful agent so that these results are not compromised, as institutions increasingly need to
lend, but they need more than ever that people honor the commitments assumed. From this,
this work will present a study on the impacts of credit default in a credit union: the case of
Sicredi União RS - Santa Rosa Centro Agency. In order to achieve the main objectives
proposed in this work, the profiles of members who are in default will be presented and
studied, considering the types of credit granted, the linked guarantees, the form of analysis for
granting, the age of the debtors and the proof of income from these members. The theoretical
basis will present concepts that will serve as a basis for the promotion of the specific
objectives of the work. At first, details will be established on cooperativism, credit unions and
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a brief history of Sicredi União RS Santa Rosa Centro Agency, which will serve as the basis
for the study. Next, details and debates linked to planning, achievement, credit risk, credit
analysis and also market risks related to the practice of rates, will denote the development of
the study. Starting with the methodology employed, a sample survey identified 400 cases of
credit default for individuals at the branch, where 100 cases were randomly selected to guide
the study. The analysis of the results brought important findings, highlighting proof of
income, since 48% of debtors do not have formal proof of income. The analysis of credits also
determined important numbers, since 43% of cases of default are associated with so-called
mass credits. It is important to highlight the high percentage of cases linked to debt
renegotiation, with 62%. The guarantees linked to the operations, where 46% have and 54%
do not have a guarantee, as well as the age group of the associates, brought interesting
numbers for the development of the study, where the young public accounts for the highest
concentration of defaults, with 42% of the cases .
Keywords: Credit, Default, Cooperative, Management, Results.
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é hoje um país altamente bancarizado. De acordo com uma nota do Banco
Central do mês de outubro de 2020, dos 174 milhões de brasileiros com mais de 14 anos,
apenas 13 milhões não possuem algum tipo de relacionamento bancário. Isso significa que
praticamente 93% das pessoas em faixa etária ativa possuem conta em algum banco. Estas
pessoas se valem dos diversos produtos e serviços que estas instituições dispõem, porém as
aplicações, poupança e fundos (para as pessoas que possuem reservas), e o acesso a
empréstimos e financiamentos (para as pessoas que necessitam de recursos para alguma
finalidade) são os principais produtos utilizados nas instituições.
E as cooperativas de crédito são opções de acesso ao sistema financeiro. Para Meinen
e Port, “o cooperativismo é uma alternativa baseada [...] em valores e princípios cujo objetivo
é a construção de uma vida melhor para centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo,
constituindo-se na maior organização não-governamental do planeta.” (MEINEN; PORT,
2012, p. 49). Ao permitir que os associados participem das decisões e acessem seus
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resultados, as cooperativas de crédito fazem valer sua essência de participação democrática e
mutualidade.
Partindo desses pressupostos, é notório que os alicerces principais de uma cooperativa
de crédito estão vinculados a obtenção de recursos de associados com reservas, servindo-se
destes para o financiamento de projetos para associados que não possuem estas reservas. Tudo
isto contribuindo para a qualidade de vida de toda a comunidade, mas sobretudo dos
associados que se valem da cooperativa. E para que este ciclo seja virtuoso, faz-se necessário
que os valores tomados sejam efetivamente devolvidos, para que a cooperativa possa
continuar a emprestar para outros associados sem interferir em seus resultados.
E é neste contexto que surge a inadimplência de crédito, que afeta negativamente a
instituição financeira cooperativa, e pode comprometer significativamente seu resultado, além
de causar uma falha que pode ser definitiva para que o ciclo deixe de ser virtuoso, para se
tornar vicioso. A partir disso as pessoas e operações financeiras são classificadas de uma
forma que seja possível diminuir os riscos de uma operação de crédito. Estas classificações
preliminares servem para balizar as ações, mas não podem prever eventuais problemas
futuros, que venham a gerar atrasos e inadimplências.
Após as considerações sobre o assunto principal deste estudo, será abordada a
instituição que servirá como base de dados. No município de Santa Rosa existem três agências
do Sicredi, e a que estará presente no trabalho em questão é a agência Centro, uma das
pioneiras no município, e que faz parte da Cooperativa Serro Azul, com 107 anos de história.
E frente às tantas dificuldades em vistas da pandemia, tanto quanto para demais instituições, a
inadimplência de crédito surge como um grande problema a ser enfrentado. O cenário é de
muitas incertezas, desemprego em diversos segmentos importantes, aumento de preços dos
mais variados produtos, enfim, os mais diversos componentes que vêm a dificultar a vida
destas instituições financeiras.
E neste contexto o objetivo principal a ser abordado é um estudo sobre os impactos da
inadimplência de crédito em uma cooperativa de crédito: o caso do Sicredi União RS -
Agência Santa Rosa Centro. Os objetivos específicos do trabalho estão voltados à análise
detalhada do perfil destes devedores (delimitados a Pessoas Físicas inadimplentes entre 0 e
180 dias), os tipos de crédito concedidos, as garantias vinculadas, a forma de análise para
concessão, a idade dos devedores e a comprovação de renda destes associados. Também será
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destacada a proposição de iniciativas e estratégias para melhorar e / ou aperfeiçoar a cobrança
das inadimplências.
Por se tratar de uma única organização, a pesquisa é classificada como estudo de caso.
É exploratória, pois visa identificar um problema, tornando-o mais explícito. Também é
classificada como descritiva, pois descreve as características de um grupo específico de
associados. É quantitativa por abordar percentuais e quantidades, e se classifica como
bibliográfica, pois faz uso de referencial teórico em relação ao tema estudado. Por fim, é
aplicada, pois visa conhecimento para a solução de problema. Os documentos que serviram
como base para o estudo foram extraídos dos sistemas e vinculados a agência já citada.
Por fim, destaca-se que o tema central deste estudo assume extrema importância para a
instituição, considerando o momento atual de pandemia. Comparando os índices de
inadimplência observados na carteira de crédito comercial com o total de crédito existente
nesta carteira, é notório que ações específicas precisam ser realizadas ou mesmo melhoradas
com base no que já vem sendo feito. Isso tudo para que, num primeiro momento, não aconteça
aumento de casos e valores em inadimplência. E, posteriormente, para que a concessão de
crédito seja mais assertiva, que proporcionando maior segurança nos resultados da agência,
objetivo este que norteia o estudo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Cooperativismo
A união cooperativa das pessoas está diretamente ligada a diversas fases da existência
humana. Grandes batalhas foram vencidas, importantes mudanças aconteceram a partir da
união de povos e de pessoas. Em suma, a cooperação esteve presente em nosso meio de
diversas maneiras, e contribuiu para a evolução da humanidade. Thenório Filho destaca que
as raízes do cooperativismo mergulham na vastidão do tempo. Tem-se conhecimento, em
todas as épocas da vida da humanidade, de formas econômicas coletivas que muito se
assemelham ao cooperativismo.” (THENÓRIO FILHO, 1999, p. 21).
Foi na Inglaterra, no Século XIX, que a criação de uma cooperativa marcou o início de
novos tempos. A primeira cooperativa reconhecida em nível mundial, e que serviu para uma
quebra de paradigmas, quando alguns tecelões resolveram se unir contra os efeitos perversos
do capitalismo da época. Sobre isso, Buttenbender diz que em 1844, em Rochdale, região
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inglesa de Manchester, 27 tecelões e 1 tecelã, levados pelas dificuldades financeiras da época,
formaram uma sociedade de ajuda mútua para reduzir os preços exorbitantes cobrados pelos
atacadistas locais. (BÜTTENBENDER, Org., 2011, p. 22).
Este modelo de estruturação societária avançou as décadas e entrou no século XX,
pois trazia em sua essência uma forma de organização que presava pela ajuda mútua. O
trabalho coletivo estava acima de qualquer interesse individual. Com base nisto, Thenório
Filho diz que,
A ideia da cooperação, da ajuda mútua e da solidariedade entre as pessoas, tem suas
raízes na necessidade desse mesmo grupo, de solucionar ou pelo menos aliviar o
peso de seus problemas através da cooperação, da mutualidade, que por sua vez são
derivadas de um fenômeno espontâneo e natural, denominado ASSOCIAÇÃO.
(THENÓRIO FILHO, 1999, p. 39).
Ainda com base neste contexto, Büttenbender diz que “dentro do processo evolutivo
das sociedades, a cooperação incorporou aspectos e características próprias desde a mais pura
ação de solidariedade em prol do bem comum até a incorporação do conceito de sinergia.”
(BÜTTENBENDER, ORG., 2011, p. 22).
Seguindo uma linha histórica e se referindo especificamente ao cooperativismo de
crédito, no ano de 1856 que surgiu na Alemanha a primeira cooperativa de crédito urbana.
Pouco tempo depois, em 1864, também na Alemanha, Friedrich Wilhelm Reiffeisen criou a
primeira cooperativa de crédito rural, denominada à época de Caixa de Crédito Reiffeisen.
Este modelo foi decisivo para o surgimento do cooperativismo de crédito no Brasil, sobre o
qual, Schardong diz o seguinte:
O Cooperativismo de Crédito chegou ao Brasil, trazido da Europa pelo padre
Theodor Amstad, com o objetivo de reunir as poupanças das comunidades de
imigrantes e colocá-las a serviço de seu próprio desenvolvimento. [...] foi em Linha
Imperial, município de Nova Petrópolis, que o Padre precursor constituiu
formalmente a primeira Cooperativa da espécie, em 28 de dezembro de 1902.
(SCHARDONG, 2002, p. 65).
O Rio Grande do Sul foi estado pioneiro para o cooperativismo de crédito no Brasil.
Muito em virtude de seus colonizadores, que no início do século traziam a cultura
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cooperativista de seus países de origem, como Alemanha e Itália. Sobre isto, Shardong diz
que:
Impulsionada pela obstinação de seu precursor, a ideia do Cooperativismo de
Crédito se materializou em mais de 60 instituições espalhadas pelo Rio Grande do
Sul. Constituídas sob o nome de Caixa União Popular Reiffeisen, essas organizações
tornaram-se representativas no financiamento das atividades das comunidades
interioranas colonizadas por imigrantes europeus, especialmente na década de
cinquenta. (SCHARDONG, 2002. p. 65).
Com o passar dos anos, o modelo do cooperativismo de crédito ganhou força e se
difundiu no país. Mas com a entrada do governo militar na década de 60, o modelo
cooperativista foi bastante afetado. Através de imposição, o governo militar restringiu
inúmeras ações das cooperativas de crédito. Diz Shardong sobre o assunto:
Com o advento da revolução de 1964, o Estado brasileiro chamou para si a função
de promover o desenvolvimento econômico, cujo projeto implicava profunda
reforma no sistema financeiro nacional, no qual as Cooperativas de Crédito, embora
integrantes, albergadas pela Lei 4595/64, tiveram parte de suas funções atribuídas a
instituições financeiras de propriedade do Estado, e com relação as demais, lhes for
restringido o espectro operacional. (SCHARDONG, 2002, p. 65).
Após a saída do governo militar no Brasil, agora regido por uma nova política
monetária, o cooperativismo de crédito alcançou outro patamar. As atribuições retiradas pelos
militares foram devolvidas e aumentadas em determinados casos. Foi a partir disso que se
criou o primeiro banco cooperativo privado brasileiro, um marco para o cooperativismo de
crédito no país, que passou a ser percebido como uma força capaz de organizar
sistemicamente a sociedade, sempre levando a sua essência de ajuda tua e fortalecendo a
vida da população de forma igualitária.
2.2 Planejamento e Consecução
Uma organização que almeja resultados satisfatórios deve estar convicta que um bom
planejamento é fundamental. Aliar práticas de sustentabilidade, segurança e acima de tudo
prezar pela rentabilidade são elementos que desafiam as empresas. Sobre este assunto e ao
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considerar as principais premissas de um empreendimento, Tachizawa e Faria dizem que: “Na
administração de qualquer empreendimento são quatro as funções básicas: planejamento
organização, direção e controle. Essas quatro funções formam um processo administrativo,
que deve ser cíclico, dinâmico e interativo. (TACHIZAWA; FARIA, 2007, p. 30).
na visão de Chiavenato, uma organização precisa definir seus objetivos, que
deverão ser administrados e interpretados a fim de que se tornem ações empresariais. Estas
estarão alicerçadas em planejamentos e controles que tendem a provocar a união de esforços
de todos os níveis da empresa, o que será imprescindível para o atingimento dos objetivos
propostos. (CHIAVENATO, 1994).
Neste contexto, mais do que uma simples administração empresarial, atribuir aos
indicadores ações práticas que visem o incremento dos resultados é fundamental para o
crescimento de toda organização.
Chiavenato afirma que “[...] os indicadores de desempenho são os sinais vitais de uma
organização, pois permitem mostrar o que ela está fazendo e quais os resultados destas
ões.” (CHIAVENATO, 2011, p. 425). Apurar os elementos capazes de otimizar o resultado
e utilizar como referência os indicadores, é um ponto importante para que se possa reduzir os
erros, e por consequência conseguir uma melhoria dos processos.
Para Sparemberger e Zamberlan, “a análise interna de uma empresa tem por finalidade
pôr em evidência as suas deficiências e qualidades.” (SPAREMBERGER, ZAMBERLAN,
2011, p. 30). Obter a real mensuração do desempenho é uma ferramenta muito valorizada no
mercado, pois os indicadores internos nortearão as ações, e proporcionarão a tomada de
decisões em um ambiente mais seguro, e com menor propensão aos erros estratégicos, fato
que será benéfico para a organização como um todo.
Tomando esta linha de pensamento como base, e considerando o assunto abordado,
Chiavenato faz a seguinte definição:
Cada organização é limitada por recursos escassos, e por isso não pode tirar
vantagem de todas as oportunidades que surgem: daí o problema de determinar a
melhor alocação de recursos. A eficiência é obtida quando a organização aplica seus
recursos naquela alternativa que produz melhor resultado. (CHIAVENATO, 2002, p.
57).
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A obtenção de bons resultados está diretamente ligada a ações voltadas aos indicadores
mais favoráveis à empresa, e estes normalmente estão vinculados ao aumento de vendas e/ou
produção. Então, possuir os indicadores do real desempenho poderá servir como base para
alocar esforços nos pontos mais fortes, sabidamente capazes de gerar resultados positivos, e
diagnosticar possíveis melhorias para os pontos menos eficazes, geradores de resultados
abaixo do esperado.
Neste contexto, Sparemberger e Zamberlan ainda completam: “as empresas precisam
estar atentas às influências do ambiente para que possam aproveitar as oportunidades que
aparecem, além de procurar transformar ameaças em oportunidades.” (SPAREMBERGER;
ZAMBERLAN, 2011, p. 28).
Portanto, é oportuno afirmar que as informações que uma empresa recebe são
balizadoras do nível competitivo que ela poderá adquirir. Os indicadores de desempenho
facilitam a tomada de decisões, e se tornam primordiais para o gerenciamento do negócio. Ao
demonstrar através de indicativos a real situação de uma organização, diminuem-se as
possibilidades de erros que possam vir a comprometer no futuro.
2.3 Risco de Crédito
O risco está presente em todas as áreas organizacionais. Porém na área de finanças
assume uma importância muito grande. Os riscos vinculados ao mercado financeiro denotam
a forma que as instituições se comportam, e assumem a condição de principal agente de
resultados. Dentro desta linha de pensamento, Securato diz o seguinte:
Mesmo com a adoção dos melhores modelos de avaliação de crédito, se conhece
o resultado de uma operação no vencimento ou quando não recebe o valor pactuado
na concessão de crédito. Essa falta de certeza quanto ao resultado do processo é que
cria a condição de risco na operação de crédito. (SECURATO, 2012, p. 59).
É através da análise de risco de um devedor ou de uma operação de crédito que se
torna possível a tomada de decisões, que objetivam a proteção da instituição de determinadas
situações desfavoráveis. Pois após a concessão do crédito, o cenário pode se alterar para o
devedor, seja ele de forma individualizada, como a perda do emprego ou uma doença familiar,
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ou de forma macro, exemplo da pandemia mundial que assola o planeta neste ano de 2020.
Sobre este assunto, Crouhy, Galai e Mark fazem a seguinte referência:
Não se pode predizer o futuro. É incerto, e ninguém teve sucesso consistente na
previsão sobre mercado de ações, taxas de juros, taxas de câmbio - ou crédito,
eventos operacionais e sistêmicos com as principais implicações financeiras. Ainda
assim, o risco financeiro que surge da incerteza pode ser gerenciado. De fato, boa
parte do que distingue as economias modernas daquelas do passado é a recente
capacidade de identificar o risco, mensurá-lo, avaliar suas consequências e, então,
reagir de acordo, seja transferindo seja mitigando o risco. (CROUHY, GALAI e
MARK, p. 1, 2007).
Ainda para Crouhy, Galai e Mark,
O risco de crédito comercial é o maior e mais elementar risco enfrentado por muitos
bancos, e é o principal risco para muitos outros tipos de instituições financeiras e
corporações. Avaliar o risco de crédito comercial é uma tarefa complicada, tendo em
vista que elementos incertos estão envolvidos na determinação tanto da
probabilidade de que um evento de inadimplência aconteça quanto do custo que ele
virá a ter. (CROUHY, GALAI e MARK, p. 199, 2007).
A partir destes contrapontos, faz-se necessário falar sobre o provisionamento dos
valores de crédito. Desde 2015, o Sicredi adotou de forma oficial a Normal Interna de
Classificação de Risco, onde o provisionamento das operações de crédito está diretamente
ligado a possibilidade de perda nestas operações. Respeitando o estabelecido na Resolução
2.682, de 21/12/1999, do Conselho Monetário Nacional, o grau de risco de cada operação é
apurado de acordo com a classificação de risco do tomador e suas características e da
avaliação do grau de risco da operação.
As operações são classificadas em 9 níveis de risco, sendo “AA” o menor grau e “H” o
maior grau. Para cada grau de risco é estabelecido um nível de provisionamento adequado à
probabilidade de perda, conforme consta na Ilustração 1.
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Ilustração 1: Classificação de Risco
Fonte: Norma Interna da Classificação de Risco (2015).
Sobre este assunto, Securato faz a seguinte afirmação:
A Resolução 2.682/99, em seu artigo 2, trata dos parâmetros a serem considerados
na avaliação de risco, considerando aspectos vinculados ao devedor e seus
garantidores e aspectos vinculados a operação. Mas deixa sob a responsabilidade da
instituição detentora de crédito a classificação da operação no nível de risco
correspondente, classificação essa efetuada com base em critérios consistentes e
verificáveis, amparada por informações internas e externas. (SECURATO, 2012, p.
73/74).
Definitivamente, a classificação de risco de credito assume papel extremamente
importante perante uma instituição financeira, pois as análises feitas a partir dela serão norte
para as ações que a organização adotará, e também para a proteção a eventuais perdas
decorrentes de créditos mal concedidos. Mas mesmo diante de classificações bem
fundamentadas, não é possível prever que eventos de inadimplência não aconteçam, e as
diretrizes relacionadas à provisão de crédito se tornam decisivas para o equilíbrio das
instituições financeiras.
2.4 Importância da Análise do Crédito
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Captar e conceder recursos estão para uma instituição financeira como a respiração
dos pulmões e o pulsar do coração estão para o corpo humano. Com essa inusitada analogia se
procura mostrar o quão importante são estas duas palavras para qualquer instituição. E para
que as falhas sejam pequenas e interfiram o mínimo possível neste processo, é imprescindível
que a instituição possua elementos técnicos precisos para uma análise assertiva, concedendo
créditos saudáveis e apresentando garantias que estejam de acordo com os valores
emprestados. Sobre tal, Schrickel diz que “operação de crédito é todo ato de vontade ou
disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte de seu patrimônio a um
terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte à sua posse integralmente, após decorrer
o tempo estipulado.” (SCHRICKEL, 1997, p.25). E complementa:
A análise de crédito envolve a habilidade de fazer uma decisão de crédito, dentro de
um cenário de incertezas e constantes mutações e informações incompletas. Esta
habilidade depende da capacidade de analisar logicamente situações, não raro,
complexas, e chegar a uma conclusão clara, prática e factível de ser implementada.
(SCHRICKEL, 2000, p. 64).
Então é imprescindível que a tomada de decisões na concessão de crédito esteja
vinculada a uma análise prévia e bem elaborada. Através de históricos ou até mesmo níveis de
scores pré-definidos do futuro tomador, as instituições definem os fatores relevantes para a
diminuição da probabilidade inadimplência. A respeito disso, Blatt diz que “a análise de
crédito consiste em um estudo da situação global de um devedor em perspectiva, visando à
elaboração de um parecer que retrate de forma clara e objetiva, o desempenho do mesmo”
(BLATT, 1999, p. 28).
Mas para que os riscos efetivamente diminuam, é importante que a própria instituição
financeira, pública ou privada, defina suas diretrizes e estabeleça os agentes da análise,
focados nos objetivos da organização, sem abandonar criteriosas análises de definição que
apontem que o negócio apresenta a segurança necessária para ser efetivado. Sobre isso, Blatt
diz que:
[...] provocar nos executivos e gerentes a reflexão e interpretação dos desafios e
metas empresariais, de modo que possam ser conhecidos os limites do planejamento
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estratégico, e evidenciados os possíveis pontos críticos do processo decisório. Assim
as políticas serão um verdadeiro guia para que os níveis operacionais tomem
decisões certas e seguras, não desvirtuando as empresas dos seus objetivos, nem tão
pouco de sua missão. (BLATT, 2000, p. 17).
Desta maneira, é cristalino que uma área de análise de crédito bem estruturada e
consciente dos objetivos da empresa, se torna preponderante para a obtenção de resultados,
pois sua atuação diminui o risco de perdas na contratação de empréstimos, que como já visto é
dos principais pilares de fundação da organização financeira.
2.5 Risco de Mercado x Taxas Médias
A relação entre a instituição financeira cooperativa e o associado tomador de crédito é
extremamente importante para que os resultados não sejam devastadores para quem empresta
o recurso. É fato que os cenários analisados são presentes e os pagamentos são futuros, e
podem alternar a condição do tomador frente ao compromisso assumido.
Através desta premissa, é importante afirmar que a adimplência gera um círculo
virtuoso, pois é desta forma que este capital volta ao mercado, gerando novos empréstimos e
melhores condições de crédito. Nesta linha de raciocínio, Gomes faz a seguinte menção:
Está ligado à ideia de segurança e de verdade que podemos inferir de alguém ou de
uma empresa. Nessas condições, e restringindo nosso objeto de estudo à área
financeira, crédito vem a ser concessão de receber a posterior algo que poderíamos
estar recebendo hoje. (GOMES, 2003, p. 72).
A partir disso, é possível afirmar que um crédito concedido deve retornar ao credor,
garantindo a ele segurança em seu negócio. Mas nos moldes econômicos atuais, a oferta por
crédito está cada vez maior, e a segurança é inúmeras vezes reprimida em detrimento da
necessidade de vendas, com análises pouco superficiais, na intenção de favorecer a grupos
socioeconômicos para que possam acessar créditos que terão dificuldades para devolver.
Sobre este assunto, Pirollo afirma:
Por outro lado, na ânsia de atingir novos espaços (status e competitividade), os
tomadores de crédito (pessoas físicas e jurídicas) assumem condições creditícias
insatisfatórias e muitas vezes tornam-se inadimplentes porque seu empreendimento
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ou receitas não suporta a carga financeira atribuída na compra. (PIROLLO, 2003, p.
910).
Portanto, o é exagero afirmar que boa parte da política de crédito e o modelo
econômico brasileiro favorece o acesso a recursos sem a devida análise, ou através de
relatórios massificados, que ignoram algumas distinções que preliminarmente deveriam ser
feitas. Sobre tal, Hoji diz que “uma política de crédito liberal aumenta o volume de vendas
muito mais do que uma política rígida, porém geram mais investimentos em contas a receber
e mais problemas de recebimento, o que exige maior rigidez da cobrança.” (HOJI, 2003, p.
132).
Porém, uma série de consequências desastrosas pode interferir fortemente nas
organizações financeiras que adotam metodologias mais flexíveis para a concessão de crédito.
Uma das primeiras consequências é o aumento da inadimplência, o que tende a
dificultar o planejamento e o cumprimento de metas, mesmo que existe certa compensação
nas taxas de juros praticadas em crédito de maior risco. E mesmo assim, ainda existem
mecanismos para proteger as instituições destas falhas analíticas, compensando as eventuais
perdas causadas pelo posicionamento agressivo na concessão do crédito. Sobre tal, diz
Securato:
A despeito do maior controle exigido, os riscos de crédito não são elimináveis,
cabendo às instituições estimarem o risco da perda e exigirem prêmios pelo risco
incorrido. Neste sentido, opiniões independentes, geralmente disponibilizadas por
agências classificadoras (agências de ratings), exercem um papel fundamental, sendo
usualmente utilizadas para medir o valor adicional do rendimento que o investidor
deve exigir a fim de ser recompensado pelo risco potencial de crédito risco esse
avaliado a partir de algum critério de classificação previamente escolhido.
(SECURATO, 2012, p. 60).
Fica bastante claro que a realidade atual do mercado leva as instituições financeiras a
análises menos criteriosas, o que favorece situações de inadimplência. Também é
preponderante que se afirme que os riscos estão intimamente ligados a um potencial maior de
resultados, pois quanto maior for o risco, maior deverá ser a taxa cobrada. O desafio das
instituições está, portanto, em achar um ponto de equilíbrio, para que os resultados não sejam
afetados de forma irreversível.
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3 Metodologia
Este estudo se baseou na análise da carteira de associados em situação de
inadimplência no Sicredi União RS Agência Santa Rosa Centro. Metodologia é a forma
como será realizada a pesquisa, e os métodos que irão auxiliar para o atingimento do objetivo
proposto, sobre o que Michel diz o seguinte:
Pode-se entender metodologia como um caminho que se traça para atingir um
objetivo qualquer. É, portanto, a forma, o modo para resolver problemas e buscar
respostas para necessidades e dúvidas. A metodologia científica é um caminho que
procura a verdade num processo de pesquisa, ou aquisição de conhecimento; um
caminho que utiliza procedimentos científicos, critérios normalizados e aceitos pela
ciência. (MICHEL, 2005, p.51).
A análise da carteira de crédito inadimplente da agência do Sicredi União RS
Agência Santa Rosa Centro, no período de 01/05/2020 a 31/10/2020 foi base para este estudo.
Ela é descritiva, pois tem por objetivo conhecer as características dos associados e sua
situação financeira por meio da análise de documentos. Quanto à pesquisa é exploratória, pois
o trabalho utilizou a técnica de documentação de dados oriundos de uma agência do Sicredi,
por meio da busca de referências bibliográficas, documentais e relatórios de pesquisas.
A pesquisa é de natureza bibliográfica, pois o referencial teórico do estudo foi
embasado em livros, artigos, trabalhos e teses. E documental, visto que para a realização da
pesquisa foram pesquisados documentos e regimentos internos e estatutários, que serviram
como base para ampliar os conhecimentos sobre a organização. E é pesquisa de campo, pois
se trata de uma investigação realizada na agência do Sicredi de Santa Rosa Centro.
a coleta de dados assume um papel relevante, pois objetiva pesquisar informações
que permitam que o assunto seja embasado com segurança, através de estatísticas que
contribuirão para o desenvolvimento e análise do estudo proposto. Sobre isso, Santos diz que:
Procedimentos de coleta de dados são os métodos práticos utilizados para juntar as
informações necessárias à construção dos raciocínios em torno de um
fato/fenômeno/processo. Na verdade, a coleta de dados de cada pesquisa terá
peculiaridades àquilo que se quer descobrir. (SANTOS, 2002, p.29).
16
Assim sendo, este trabalho realizou uma pesquisa por amostragem, identificando 400
casos de inadimplência de crédito comercial (somente pessoa física) entre 0 e 180 dias,
considerando o período de 01/05/2020 a 31/10/2020, no Sicredi União RS - Agência Santa
Rosa Centro. A partir desta amostra, selecionou-se aleatoriamente 100 casos para formar o
alicerce deste estudo. Os devedores em questão não terão suas identidades divulgadas,
prezando pela ética da cooperativa, e respeitando o sigilo bancário.
Este estudo foi pautado em um assunto extremamente delicado para as instituições
financeiras: a inadimplência. Na mesma proporção de importância de outros pilares relevantes
como captação, produtos e serviços, este assunto está ligado diretamente aos resultados da
organização. E os números encontrados durante o desenvolvimento deste trabalho trouxeram
uma realidade bastante difícil, principalmente para uma cooperativa de crédito, onde a
bandeira da mutualidade deve imperar. A inadimplência interfere diretamente no retorno que
os associados têm de sua cooperativa.
4 Análise dos Resultados
Com relação a análise dos resultados, Marconi e Lakatos fazem a seguinte menção:
“Uma vez manipulados os dados e obtidos os resultados, o passo seguinte é a análise e
interpretação dos mesmos, constituindo-se ambas no núcleo central da pesquisa”. (MARCONI e
LAKATOS, 2010, p.151).
Assim sendo, a seguir estarão sendo explanados os dados elencados na pesquisa, uma
breve explanação da organização que serviu como base para o estuado, bem como sucintas
análises de cada tópico, quanto aos tipos de crédito concedidos, as garantias vinculadas a eles,
as formas de análise para concessão, a idade dos associados em situação de inadimplência e a
comprovação de renda informada.
4.1 Apresentação da Organização: o Sicredi União RS Agência Santa Rosa Centro
A Agência Santa Rosa Centro possui hoje nove mil e quinhentos associados, que
atuam nos mais diversos ramos de atividades, desde agricultores, aposentados e profissionais
liberais, até empresas e o público em geral. 37 colaboradores atuam na agência, para prestar
os melhores serviços e atender as necessidades e anseios dos associados.
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O endereço da agência é na Avenida Rio Branco, 14 Centro. Desde a fusão das
Cooperativas Grande Santa Rosa, Serro Azul e Missões em novembro de 2010, as três
agências de Santa Rosa fazem parte da Cooperativa de Crédito, Poupança e Investimento
Serro Azul (Sicredi União RS), que conta atualmente com 45 agências, espalhadas por 40
municípios da região.
As cooperativas de crédito componentes do Sicredi estão organizadas em forma de
sistemas, o que propicia maior abrangência e solidificação dos produtos oferecidos. Algumas
empresas corporativas, todas integrantes do sistema, é que dão sustentabilidade para que as
unidades possam oferecer aos seus associados acesso a produtos e serviços financeiros.
Alicerçada em ideais cooperativos, o Sicredi assim define sua missão: como sistema
valorizar o relacionamento, oferecer soluções financeiras para agregar renda e contribuir para
a melhoria da qualidade de vida dos associados e da sociedade.
Seus valores trazem preceitos que visam à preservação irrestrita da natureza do
negócio; o respeito às individualidades do associado; a valorização e o desenvolvimento das
pessoas; a preservação da instituição como sistema; o respeito às normas oficiais internas; e a
eficácia e transparência na gestão.
Com a visão de ser reconhecido pela sociedade como instituição financeira
cooperativa, com excelência profissional e de gestão, voltada para o desenvolvimento
econômico e social, o Sicredi busca atender as demandas de seus associados com clareza a
transparência, visando à difusão dos ideais cooperativistas.
O Sicredi busca de forma constante o desenvolvimento das comunidades onde atua,
contribuindo para melhorar a qualidade de vida da população, preocupado com a realização
de ações sociais que disseminem a cultura cooperativista.
4.2 Tipos de Crédito
A lista de pesquisas realizadas é aberta com o tipo de crédito que desencadeou a
inadimplência. Num primeiro momento, este item pode até ser considerado pouco relevante,
mas abaixo logo se perceberá como esta análise é importante para o entendimento de várias
situações, bem como para que muitas outras sejam evitadas. Os tipos de crédito em situação
de inadimplência constam da Ilustração 2.
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Ilustração 2: Tipo de Crédito
Fonte: Resultado de Pesquisa.
Conforme mencionado, este estudo dividiu os associados em situação de
inadimplência de acordo com o tipo de financiamento que possuem. No primeiro e maior
grupo, com 62% dos casos, as operações de crédito vinculadas a renegociações de dívidas. Já
o segundo grupo, que responde por 38% dos casos, estão associados com crédito considerados
normais (operações de Crédito Pessoal, Construção e Reforma, Veículos, entre outros). Como
as renegociações de dívidas estão vinculadas as crédito que tiveram problemas no passado,
e foram repactuados ou regularizados através de novos acordos, é notório que se trata de
análises não satisfatórias em sua origem, pois demonstra que o perfil desses associados é
problemático.
A cooperativa orienta as agências a solicitar no mínimo 10% de entrada em
renegociações de dívidas, e o máximo de garantias que puder agregar. Isto inibe que contratos
sejam repactuados sem grandes perspectivas de que possam efetivamente ser pagos, bem
como a má fé de associados que possam vir a solicitar renegociação para verem seus CPF fora
de órgãos de proteção ao crédito.
Portanto, este resultado é passível de duas análises macro: que os associados com
histórico de inadimplência, e que acessam renegociações de dívidas, estão propensos a
continuar nesta lista de devedores, e que seus hábitos tendem a se manter. E também que o
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número de associados com créditos considerados normais também não é baixo, o que
demonstra que as análises precisam ser continuadamente criteriosas.
4.3 Garantias Vinculadas
Simplificadamente falando, um empréstimo é uma promessa entre credor e devedor
para o pagamento mediante a cobrança de juros. E por ser uma promessa, existe o risco de que
não seja cumprida. Neste sentido, as instituições financeiras precisam estar protegidas no
momento de eventuais inadimplências. E isto pode acontecer com a inclusão de um bem
móvel ou imóvel, ou mesmo com a inclusão de um avalista. Sobre esta questão, Schrickel
ressalta que “sua importância é para atenuar o risco, é uma tentativa de diminuir a
inadimplência” (SCHRICKEL, 1997, p. 55).
Abaixo, a Ilustração 3 traz as informações vinculadas a garantias.
Ilustração 3: Garantias de Crédito
Fonte: Resultado de Pesquisa.
Neste quesito, existe praticamente um empate técnico, pois das operações analisadas,
46% possuíam alguma garantia (real ou pessoal) e 54% se tratavam de operações sem
nenhuma garantia. Este dado pode até ser considerado uma surpresa, visto que qualquer
garantia que esteja vinculada, diminui o risco de inadimplência.
Mas é importante salientar que a concessão de um crédito não deve levar em
consideração a garantia como premissa fundamental. Elas devem ser vistas como agentes de
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segurança para casos inesperados que levem o devedor a não conseguir honrar o compromisso
assumido. O principal item a ser analisado é a capacidade de pagamento do devedor, seu
histórico, classificação de risco, enfim, ferramentas de auxílio para uma boa análise. E o
resultado deste gráfico reforça exatamente este preceito, pois mesmo com garantias
vinculadas, a inadimplência pode acontecer.
4.4 Forma de Análise para concessão
Cada vez mais as instituições financeiras estão se valendo dos chamados ratings, que
significam classificação. E é exatamente disso que tratam, pois as pessoas (físicas e jurídicas)
são classificadas através de seu comportamento financeiro. Atrasar parcelas ou pagar em dia
pode ser uma escolha para muitas pessoas. Mas o que é incompreendido é que isto está
intimamente ligado a classificação de risco que as instituições adotam no momento de
conceder créditos, dentre outros vários quesitos também analisados.
E, fazendo uma relação com práticas de mercado, atualmente as instituições concedem
crédito aprovados (limites) para os associados de acordo essa classificação. O Sicredi,
obviamente, se vale destas ações, extremamente importantes para os resultados (incremento
de crédito com taxas acima daqueles contratados junto as agências), mas com grande
representatividade de risco para a instituição, que os associados podem acessar estes
créditos previamente carregados através de caixas ou meios eletrônicos. Abaixo, a Ilustração 4
apresenta as formas de análise para concessão de crédito.
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Ilustração 4: Forma de Análise para Concessão
Fonte: Resultado de Pesquisa.
Os números vinculados a Ilustração 4 representam exatamente o que foi tratado
anteriormente, pois quase metade dos casos de inadimplência estão vinculados aos chamados
Créditos Massificados, que recebem esta nomenclatura por abranger um grande número de
associados, e conceder a estes limites de acordo com seu rating. Para ser específico, 43% das
operações analisadas originaram-se deste tipo de crédito, que via de regra não possui
avalistas, tampouco garantia real. 34% dos créditos são oriundos das análises dos comitês
de crédito locais, ou seja, que são realizados somente dentro das agências, de acordo com uma
alçada que cada uma recebe. Enquanto 23% estão ligados a créditos que fogem das alçadas
dos comitês locais e são referendados por analistas e especialistas que atuam nas áreas de
crédito da superintendência regional.
A ilustração traz uma reflexão muito importante, que precisa ser correlacionada às
ações de crédito. Certamente, as instituições financeiras preveem eventuais situações
indesejadas de inadimplência ao disponibilizar créditos em massa. O que se torna
imprescindível, para que a assertividade seja a maior possível, é que os associados estejam
com seus cadastras devidamente ajustados, pois os limites são carregados a partir das
informações obtidas do cadastro.
Outro fato notório é que o percentual diminui à medida que os critérios de concessão
aumentam. Isso referenda ainda mais este estudo, e solidifica com contornos tácitos que
quanto mais profundas são as análises de crédito, menores são as chances do associados ficar
inadimplente, auxiliando para que o ciclo de crédito se complete, e por consequência os
resultados e objetivos sejam alcançados.
4.5 Idade
A Ilustração 5 priorizou a análise da faixa etária dos associados em situação de
inadimplência, fator que pode também contribuir para o aumento de casos de inadimplência.
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Ilustração 5: Pesquisa por faixa etária
Fonte: Resultado de Pesquisa.
De acordo com um estudo de agosto de 2019 feito pela Serasa Experian, 12,6 milhões
de pessoas entre 41 e 50 anos deixaram de honrar seus compromissos com bancos e
financeiras. Isso representa 20% do total. entre idosos, este número foi de 9,6 milhões,
representando 15% do total. Estas foram as faixas etárias que mais cresceram em relação a si
próprias nos anteriores.
Necessário que se faça um contraponto com relação à pesquisa vinculada a este
estudo. Por certo, os índices mais representativos se concentraram na faixa etária de 18 a 30
anos, com 42% dos casos. Ja uma faixa intermediária, de pessoas entre 31 e 40 anos,
representou 35% dos casos, enquanto pessoas acima de 40 anos foram responsáveis por 23%.
Os números deixam bastante claro que o principal foco de inadimplência paira sobre o
público jovem. Isto submete a uma necessária reflexão, pois se trata de uma faixa
considerável de risco. Obviamente que as análises de créditos não levarão em conta este dado
no momento de conceder determinado crédito, porém é possível contemplar melhores análises
e se possível dispender mais tempo para créditos específicos desta faixa, sobretudo aqueles
que são analisados dentro das agências.
4.6 Comprovação de Renda
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Eis um dos pilares mais importantes da análise de crédito, propositalmente deixado
para o final: a comprovação de renda. As ilustrações anteriores apresentaram os tipos de
créditos, garantias vinculadas as operações, forma de análises para concessões e a faixa etária
do grupo de associados deste estudo. Porém, todos estes estão invólucros e são totalmente
dependentes da comprovação de renda, pois é isto que vai determinar se uma pessoa possui
efetiva capacidade para tomar um determinado valor em crédito.
O autor Schrikel traz excelente contribuição sobre o tema, ao fazer um contraponto
entre as virtudes de caráter e capacidade de um potencial devedor:
Pode o tomador de empréstimos, literalmente, ser honesto, isto é, ele tem a
inquestionável vontade (Caráter) de pagar suas obrigações. Porém se sua habilidade
(Capacidade) em fazê-lo for considerada anormal (leia-se, se ele for incapaz de
pagar), sua vontade perde algo de seu valor. Afinal, pouco esclarecedora é a
afirmação de um devedor: “quero pagar, mas não posso”. Nestas circunstâncias, o
“querer” e o “poder” pagar misturam-se, a ponto de dificultar sobremaneira ao
emprestador o discernimento de cada um deles. (SCHRICKEL, 1997, p. 50).
A Ilustração 6 traz, alicerçado em números, as três formas que uma pessoa física pode
comprovar seus rendimentos, para a análise de um crédito. A primeira é a declaração formal
de renda, onde o associado apresenta oficialmente documentos que comprovem o valor que
recebe (holerites e declarações de Imposto de Renda são os documentos normalmente
apresentados). Já a segunda é uma mescla do trabalho formal, com complemento de renda
informal, prática sabidamente realizada por inúmeras empresas. Neste caso o associado
apresenta parte do seu ganho de forma oficial, e a outra com uma declaração informal. E por
último a declaração totalmente informal de renda, muito utiliza por profissionais liberais. Esta
consiste em não apresentar nenhum documento oficial que possa confirmar o valor que o
associado diz receber.
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Ilustração 6: Comprovante de Renda
Fonte: Resultado de Pesquisa.
Esta ilustração traz um número nada surpreendente. Isso por que o maior percentual de
pessoas em situação de inadimplência está associado àqueles que não comprovam de forma
oficial a sua renda, com 48%. Isso significa afirmar que praticamente metade da lista
analisada não comprovou de forma oficial a sua renda. O menor percentual, 23%, está entre
os associados que possuem uma mescla de declarações formais e informais. os
inadimplentes que possuíam comprovação oficial de renda foram 29%.
Fica explícito e reafirma o que já vinha sendo tratado: quanto maior e mais criteriosa é
a análise, menor é a possibilidade de haver a inadimplência. E prezar pelo cadastro, neste caso
precisamente pela comprovação de renda, pode ser importante para que crédito saudáveis
sejam concedidos. Por outro lado, as instituições são sabedoras que existe uma grande fatia da
população que trabalha na informalidade, o que não faz destas pessoas melhores ou piores
pagadores. Nestes casos, as outras ferramentas de análise devem ser colocadas em prática.
Mas, ao final, tudo acaba pairando nos critérios analíticos, pois os números expressaram que
este é o maior pilar de fundamentação de um crédito bem concedido.
5 Considerações Finais
Durante muito tempo, falar em mudanças, quebra de paradigmas e tudo que implica e
altera a rotina de organizações e pessoas era quase natural. Porém, estar diante de uma
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pandemia, e ver transgredidas implicações antes inabaláveis sendo alteradas, tendo que se
adaptar a estes novos tempos, e manter a rotação e os resultados em alta, foi desafio não
apenas de empresas, mas de pessoas, sabidamente dinâmicas e imprescindíveis para que as
engrenagens funcionais dos negócios continuem rodando.
E se para o mundo inteiro foi difícil, não diferente foi para as cooperativas de crédito.
Desafio que se tornou questão incomensurável de subsistência, levando em consideração que
a bandeira da mutualidade e da cooperação sempre são levadas a risca e norteiam todas as
ações que tem por objetivo o bem estar de todos, comunidade e cooperados.
A partir disso, o estudo em questão teve por objetivo identificar associados em
situação de inadimplência. De forma aleatória, alguns devedores foram escolhidos, e a partir
disso foram feitas considerações que levaram em conta os tipos de crédito, as garantias
vinculadas, a forma e análise para concessão, a idade e a comprovação de renda empregada.
Alguns pontos relevantes foram detectados, pois a pesquisa trouxe a tona diversas
especificações destes devedores, colaborando para uma criteriosa análise das razões, e
permitindo contribuições de melhoria.
Todos os tópicos que nortearam este estudo assumem situações de importância, mas é
preciso destacar que a comprovação de renda se torna crucial, uma vez que 48% dos
devedores não possui comprovação formal de renda. Outro ponto bastante importante está na
questão de análises dos créditos, onde 43% dos casos estavam associados aos chamados
créditos massificados. Da mesma forma, cabe ressaltar que um percentual bastante elevado
(62%) de casos de inadimplência está ligado à renegociação de dívidas. Itens como as
garantias vinculadas, onde praticamente ou um empate técnico (46% possui garantia e 54%
não possui garantia) também são preponderantes. E por fim, a questão da faixa etária dos
associados, onde o público jovem, entre 18 e 30 anos, concentra a maior faixa de
inadimplência, com 42% dos casos.
No ponto de vista do acadêmico, este trabalho contribuiu para aprofundar
conhecimentos de uma área extremamente importante, e que precisa de muita atenção por
parte da instituição. Ter acesso a dados criteriosos que demonstram os motivos dos atrasos e
traçam o perfil deste devedor, personifica o profissional de uma cooperativa, que além de
auxiliar o associado para que este tenha a melhor solução, precisa prezar pelo ideal
cooperativo, e se cercar de informações precisas para a concessão de crédito.
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Para o Sicredi, centenária instituição cooperativa, este trabalho contorna traços
bastante contundentes na importância que o ciclo de crédito assume perante as práticas
mercadológicas. Não somente obter informações, mas sobretudo saber a maneira de utilizá-las
para antever aos fatos, evitando a inadimplência, e sabendo a melhor forma de atuar para que
ela não interfira em resultados e segregue os objetivos da cooperativa.
Por fim, o estudo atenua a importância de estar sempre atento as mudanças provocadas
pelo mercado, para não ser surpreendido por defecções que fujam das alçadas de análise da
cooperativa. Saber que o problema existe, sua causa e sobremaneira o que fazer para dirimi-lo
passa a ser decisivo para a obtenção dos resultados desejados. Em suma, criar mecanismos
que facilitem a análise de crédito, para constantemente melhorar em relação a si próprio,
fazendo com que o problema seja controlado no início.
Medidas protetivas cada vez mais eficazes, melhoramento de análises massificadas, e
adoção de programas de aprendizado, levando em conta os problemas enfrentados no passado
para corrigi-los no futuro, são sugestões que ficam após este estudo. E a certeza de tão
importante quanto emprestar é cobrar, pois é imprescindível que o ciclo se complete, e a
cooperativa possa continuar seu crescimento, promovendo uma sociedade mais justa, e se
tornando de fato um diferencial na vida de seus associados.
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