99
O pontapé inicial, se daria numa tarde brumosa de novembro de 1843, quando o grupo de
flaneleiros desempregados, formado por 27 homens e uma mulher, se reuniram em
Rochdale, próximo à Manchester, na Inglaterra, para discutir formas de fugir à miséria
iminente (Holyoake, 1933: 16).
Entre as inúmeras ideias que surgiram, Robert Owen e William King, sugeriram a
criação de um armazém cooperativo de consumo, para facilitar o acesso à alimentação e
a outros produtos necessários para sua sobrevivência. Algumas regras importantes foram
lançadas: as compras deveriam ser à vista para não lesar as restritas economias que já
possuíam; os dirigentes deveriam ser necessariamente conscienciosos, competentes,
gestores eficientes, sumamente idôneos e éticos em seus atos; os associados precisariam
se apresentar como solidários, leais à sua cooperativa. Assim, a sociedade com estatuto
próprio e um plano de trabalho que incluía ações educativas aos associados, registrada
em 28 de outubro de 1844, e que perdurou por meio século, ainda inspiraria milhões de
pessoas mundo afora. Em 1866 já eram aproximadamente 5.300 associados.
Desde os seus primórdios, o cooperativismo pauta-se nos valores éticos e sustentáveis
da cooperação, bem como em ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade,
equidade, solidariedade, honestidade, transparência, responsabilidade social e
preservação ambiental.
A importância e a necessidade de atuar de forma coletiva ainda é claramente
reconhecida nos dias de hoje, seja em ações simples do cotidiano até formas mais
complexas de cooperativismo. Mafessoli (2014) instiga a reflexão de que o indivíduo,
enquanto estado físico, é indivisível. A pessoa é plural. Estamos superando o indivíduo,
fechado nele mesmo, para viver a pluralidade como pessoas. Buscam-se tribos,
comunidades, redes sociais, ou seja, espaços de sentimento de pertença, de identidade
coletiva. É no coletivo que são pensadas, organizadas e desenvolvidas questões essenciais
para o desenvolvimento que irão refletir também na esfera individual dos sujeitos
envolvidos.
No entanto, para contribuir com o coletivo é preciso ser autônomo. Como bem lembra
Soares (2006: 7) sujeito autônomo “não faz o que o mestre mandou, mas entende que o
que precisa ser feito só tem sentido se decorrer de uma ação compartilhada, ou seja, se a