1
ANÁLISE DO PERFIL EMPREENDEDOR NO BRASIL, BOLÍVIA, MÉXICO E
ARGENTINA
ANALYSIS OF THE ENTREPRENEUR PROFILE IN BRAZIL, BOLIVIA, MEXICO
AND ARGENTINA
Fabricio Pelloso Piurcosky
1
Centro Universitário do Sul de Minas Brasil
Pedro dos Santos Portugal Júnior
2
Centro Universitário do Sul de Minas Brasil
Juan Carlos Arroyo Mendizábal
3
Universidad Privada de Ciencias Administrativas y Tecnológicas UCATEC - Bolívia
Rodrigo Franklin Frogeri
4
Centro Universitário do Sul de Minas Brasil
Juan Carlos Gonzáles Islas
5
Universidad Tecnológica de Tulancingo - México
Recibido: 10/02/2021
Aprobado: 01/06/2021
Resumo
Este trabalho busca identificar o perfil de empreendedores em localidades do Brasil,
Argentina, Bolívia e México. Conhecer as características presentes nessas pessoas pode
auxiliar na criação de práticas e ações que visem auxiliar o incentivo e a sobrevivência dos
empreendedores. Este propósito foi alcançado através de uma pesquisa quantitativa realizada
1
Doutor em Administração pela Universidade Federal de Lavras. Professor e Pesquisador do
Centro Universitário do Sul de Minas. E-mail: [email protected]
2
Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Campinas. Professor e
Pesquisador do Centro Universitário do Sul de Minas. E-mail: pedro.portugal@professor.unis.edu.br
3
Doutor em Ciências da Educação pela Universidad Militar Mcal Bernardino Bilbao Rioja.
Vice-reitor da UCATEC. E-mail: [email protected]
4
Doutor em Sistemas de Informação e Gestão do Conhecimento. Professor e Pesquisador do
Centro Universitário do Sul de Minas. E-mail: [email protected]is.edu.br
5
Engenheiro. Professor e Pesquisador da Universidade Tecnológica de Tulancingo. E-mail:
juanc.gonzales@utectulancingo.edu.mx
2
no ano de 2018 em Varginha - Brasil, Buenos Aires - Argentina, Cochabamba Bolívia,
Tulancingo México. A pesquisa abarcou um total de 127 respondentes, permitindo
identificar as principais características empreendedoras presentes na amostra estudada, se
destacando a determinação, a busca por novas oportunidades de negócios e o equilíbrio
emocional.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Perfil Empreendedor. América Latina. Sobrevivência
Empresarial. Oportunidades de Negócios.
Abstract
This paper seeks to identify the profile of entrepreneurs in Brazil, Argentina, Bolivia and
Mexico. Knowing the characteristics present in these people can help in the creation of
practices and actions that aim to help the incentive and the survival of the entrepreneurs. This
purpose was reached through a quantitative survey conducted in 2018 in Varginha - Brazil,
Buenos Aires - Argentina, Cochabamba - Bolivia, Tulancingo - Mexico. The survey
encompassed a total of 127 respondents, allowing to identify the main entrepreneurial
characteristics present in the studied sample, highlighting the determination, the search for
new business opportunities and emotional balance.
Keywords: Entrepreneurship. Profile Entrepreneur. Latin America. Business Survival.
Business Opportunities.
1 Introdução
O processo de empreender exige de seus atores a capacidade de tomar decisões em
ambientes muitas vezes incertos, assumindo riscos cuja mensuração é deveras complexa. Para
sobreviver em ambientes como esses o empreendedor necessita desenvolver certas
características que formarão o seu perfil. Posto isso, entender essas características é
importante para verificar o perfil que os empreendedores, de diferentes magnitudes,
desenvolvem em si mesmos.
Este trabalho trata de elencar as características específicas e mais evidenciadas dos
empreendedores latino-americanos de quatro países diferentes. É importante verificar se as
3
características pessoais daqueles que praticam o empreendedorismo revela algo importante ou
mesmo particular, pois é um público bastante heterogêneo e que escolhe empreender por
motivos dos mais diversos. Essa área tem recebido certos incentivos financeiros de órgãos
públicos, privados e também de órgãos nacionais como o Serviço de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE), contribuindo para a sua ampliação quantitativa.
Este estudo tem por objetivo apontar as características de forma a identificar um perfil
do empreendedor e com isso, facilitar as atividades, criar ferramentas e fornecer material para
que os profissionais envolvidos possam encorajar ainda mais outros ou mesmo dar perenidade
ao seu negócio.
Para atingir esse objetivo foi escolhida uma localidade em cada um desses países,
determinada pela conveniência e facilidade de comunicação com universidades parceiras que
auxiliaram na aplicação do questionário.
Esse artigo está estruturado em cinco partes distintas, incluindo essa introdução. Em
seguida faz-se uma referência breve aos conceitos sobre empreendedorismo. No item 3
descreve-se a metodologia adotada e no item 4 abordam-se e discutem-se os resultados
obtidos pela pesquisa. Ao final, apresentam-se as considerações finais.
2. Empreendedorismo
Ao se buscar a etimologia do termo empreendedorismo é possível verificar que se
trata de uma palavra de origem francesa, podendo ser traduzida literalmente como “aquele
que está entre”. Nesse âmbito, Dolabela (2008) explica que empreendedorismo consiste em
um neologismo, derivado da livre tradução, que pode ser utilizado para designar as
características de um indivíduo empreendedor, seu perfil, suas ações e suas percepções frente
aos desafios e seu ambiente.
Esse tipo de conceituação passou a ser utilizado no final do século XVII e início do
século XVIII como uma forma de se referir à pessoa que criava e conduzia projetos ou
empreendimentos (SCHMIDT; CUNHA, 2009). No entanto, de acordo com Filion (1999)
esse tema apenas se tornou um campo de estudo na década de 1980.
4
No contexto dos negócios, Ronstadt (1987) afirma que o empreendedorismo consiste
em um processo dinâmico que permite a criação e ampliação da riqueza através de indivíduos
que assumem riscos em termos de patrimônio, tempo e/ou comprometimento com a carreira e
que sejam capazes de agregar valor a algum produto ou serviço.
Nessa mesma linha de concepção está a afirmação de McClelland (1972) de que
empreendedor é aquele que assume um risco sendo movido por necessidades humanas de auto
realização, desejo de conquistas, procura de autonomia, de construção de redes de contatos e
de estabelecimento de know-how. Dessa forma, compreende-se o empreendedorismo não
apenas como indutor de novos negócios, mas também como um fenômeno que auxilia na
descoberta de novos mercados e oportunidades de negócios.
Na construção do conceito de indivíduo empreendedor, duas correntes principais se
destacam: a corrente dos economistas, precursora nas discussões sobre este agente; e a
corrente comportamentalista.
A primeira associa a figura do empreendedor à criação, alguém capaz de introduzir,
em diferentes contextos, processos, tecnologia e soluções inovadoras. Para Schumpeter
(1950), a função do empreendedor é reformar ou revolucionar os padrões de produção,
explorar algo não antes experimentado para produzir um novo produto ou um produto
existente em um novo processo, proporcionando uma nova fonte de suprimento de materiais
ou uma nova forma de comercialização de produtos. O empreendedor é uma pessoa capaz de
destruir a ordem econômica vigente devido à introdução no mercado de novos
produtos/serviços, pela criação de novas formas de gestão ou pela exploração de novos
recursos, materiais, tecnologias e processos. Foi esse autor que estabeleceu os conceitos de
destruição criativa, onde o empreendedor desafia o mercado e possibilita uma ruptura de
paradigmas predominantes, podendo alterar ou até romper o equilíbrio existente com a criação
de novos produtos.
A segunda corrente, dos comportamentalistas, de acordo com Acs et al. (2012),
enfatiza os aspectos que se referem aos procedimentos e atitudes do empreendedor, como a
intuição e a criatividade. Filion (1999) afirma que o empreendedor é uma pessoa criativa,
5
capaz de estabelecer e atingir objetivos, com alto nível de consciência do ambiente em que
vive, usando-a para detectar novas e revolucionárias oportunidades de negócios.
Importante salientar, de acordo com Dolabela (2008), a capacidade do empreendedor
em identificar oportunidades, correr riscos, estabelecer metas e criar redes de relacionamentos
que contribuem não para a realização de projetos próprios, como também para o
desenvolvimento econômico de um país.
No âmbito dessa segunda corrente que se encontra a fundamentação para a pesquisa
realizada a fim de identificar as características principais presentes no perfil do empreendedor
latino-americano nas localidades pesquisadas.
3 Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, de caráter quantitativo. A pesquisa
é descritiva, pois buscou registar, analisar e correlacionar fatos, com objetivo de identificar
perfis de indivíduos e grupos (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007). Também é uma
pesquisa exploratória, tendo em vista que
[...] a pesquisa exploratória não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas no
trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre
determinado assunto de estudo. Tais estudos têm por objetivo familiarizar-se com o
fenômeno ou obter uma nova percepção dele e descobrir novas ideias (CERVO;
BERVIAN; DA SILVA, 2007, p.63).
Os dados coletados foram tabulados e analisados de forma quantitativa, de forma a
medir e identificar características nos entrevistados (MALHOTRA, 2011), criando assim uma
visão quantitativa da população estudada (CERVO; BERVIAN, DA SILVA, 2007).
A população em estudo são empreendedores das cidades de Varginha Brasil, Buenos
Aires Argentina, Cochabamba Bolívia e Tulancingo México estabelecidas com base na
possibilidade de contato por meio de universidades parceiras, sendo ao todo obtidos 127
respondentes.
Utilizou-se de um questionário semiestruturado para realizar a coleta das informações
junto a esses empreendedores. Para Cervo, Bervian e Da Silva (2007), o questionário permite
medir com mais exatidão o que se deseja. Foi aplicado por entrevistadores qualificados
6
(GOODE; HATT, 1977), de forma a esclarecer eventuais dúvidas dos entrevistados. Os
questionários foram respondidos durante o primeiro semestre de 2018.
As questões foram elaboradas de forma a traçar o perfil demográfico dos entrevistados
(sexo, idade, renda, profissão, dentre outros). Tais variáveis, chamadas categóricas, foram
analisadas em relação à sua frequência (MCCLAVE, BENSON, SINCICH, 2009).
Na segunda parte, foram utilizadas questões cujas variáveis são preditoras, ou seja,
buscam explicar o fenômeno estudado (LEVINE et al., 2012). Tais questões foram compostas
por uma escala de concordância de 5 pontos (1- Nunca, 2 - Raramente, 3 -Às vezes, 4 -
Frequentemente e 5 - Sempre).
Os dados quantitativos foram analisados utilizando o Statistical Package for the Social
Sciences, software estatístico que tem sido utilizado no meio acadêmico, científico e
empresarial como ferramenta para o procedimento de análises estatísticas, principalmente
estatísticas multivariadas e descritivas (HAIR JR. et al., 1998). De forma a identificar e traçar
características empreendedoras dos respondentes, foram realizadas as seguintes análises
estatísticas: distribuição de frequência, análise de Cluster, análise fatorial e correlão. Os
resultados das análises são descritos no item 4.
4 Resultados e discussões
Apresentam-se nesta seção os resultados e discussões dos dados obtidos após análise
estatística.
4.1 Estatística Descritiva
A primeira análise realizada foi com relação à distribuição de frequência das variáveis
demográficas, a fim de traçar o perfil dos respondentes. A distribuição de frequência permite
resumir grande conjunto de dados em uma tabela, onde é possível identificar os valores dos
dados juntamente com suas frequências correspondentes (TRIOLA, 2008).
A Tabela 1 apresenta a frequência dos países dos respondentes.
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Tabela 1: País dos respondentes
País
Frequência
Percentual
MÉXICO
45
35,4%
BRASIL
29
22,8%
ARGENTINA
35
27,6%
BOLÍVIA
18
14,2%
Total
127
100,0%
Fonte: dados da pesquisa (2018)
A Tabela 2 apresenta a distribuição dos respondentes por gênero.
Tabela 2: Sexo dos respondentes
Sexo
Frequência
Percentual
MASCULINO
78
61,4%
FEMININO
49
38,6%
Total
127
100,0%
Fonte: dados da pesquisa (2018)
Percebe-se um maior percentual de participantes do sexo masculino (61,4%), sendo o
Brasil o país com maior número de respondentes. A idade média é de 36 anos, ocorrendo com
maior frequência respondentes com 37 anos de idade.
A Tabela 3 apresenta o estado civil dos respondentes.
Tabela 3: Estado civil dos respondentes
Estado Civil
Frequência
8
CASADO(A)
53
SOLTEIRO(A)
48
VIÚVO(A)
2
DIVORCIADO(A)
12
AMASIADO
12
Total
127
Fonte: dados da pesquisa (2018)
Já a Tabela 4 mostra o nível educacional dos respondentes.
Tabela 4: Nível educacional dos respondentes
Nível educacional
Frequência
Percentual
Ensino Médio
15
11,8%
Superior Incompleto
28
22,0%
Superior Completo
32
25,2%
Pós-Graduação
41
32,3%
Ensino Médio Técnico
11
8,7%
Total
127
100,0%
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Importante observar que mais da metade dos respondentes possuem formação superior
(superior completo ou pós-graduação) o que indica que os mesmos provavelmente tiveram
acesso a ferramentas teóricas gerenciais que podem ser aplicadas nos processos de tomada de
decisão em seus empreendimentos.
A Tabela 5 apresenta a renda pessoal dos respondentes da pesquisa.
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Tabela 5: Renda pessoal dos respondentes
Renda pessoal
Frequência
Percentual
Não há renda
17
13,4%
Igual ou menor a 1 salário mínimo
16
12,6%
De 1 a 3 salários mínimos
28
22,0%
De 3 a 5 salários mínimos
33
26,0%
De 5 a 10 salários mínimos
21
16,5%
Acima de 10 salários mínimos
12
9,4%
Total
127
100,0%
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Nota-se que 48% dos respondentes possuem renda pessoal correspondente a até três
salários mínimos, demonstrando assim que o comportamento empreendedor nessas
localidades pesquisadas não é uma característica intrínseca apenas de pessoas de alta renda.
a Tabela 6 apresenta a renda familiar dos respondentes. Inclui-se aqui a renda de
todas as pessoas que residem com os respondentes e que contribuem para a renda familiar.
Tabela 6: Renda familiar dos respondentes
Renda familiar
Frequência
Percentual
Não há renda
15
11,8%
Igual ou menor a 1 salário mínimo
5
3,9%
De 1 a 3 salários mínimos
29
22,8%
De 3 a 5 salários mínimos
33
26,0%
De 5 a 10 salários mínimos
19
15,0%
10
Acima de 10 salários mínimos
26
20,5%
Total
127
100,0
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Verifica-se assim que 38,5% dos respondentes possuem renda familiar de até três
salários mínimos, que corresponde, no Brasil, à designação de família de baixa renda,
demonstrando mais uma vez a ocorrência de perfil empreendedor em todas as classes sociais
nessas localidades pesquisadas.
Todos os respondentes possuem algum tipo de negócio próprio. Sendo assim, foi
perguntado se os mesmos tinham interesse em abrir outro empreendimento, além daquele que
já possuem. A Tabela 7 apresenta os resultados.
Tabela 7: Tem intenção de ter outro negócio?
Deseja ter outra empresa?
Frequência
Percentual
Sim
103
81,1%
Não
24
18,9%
Total
127
100,0%
Fonte: dados da pesquisa (2018)
Analisando de forma mais específica, pode-se afirmar que o perfil geral dos
empreendedores entrevistados é, em sua maioria, composto por pessoas idade média de 36
anos, do sexo masculino, com pós-graduação e renda familiar de 3 a 5 salários mínimos.
Outra característica interessante é o fato de que a maioria dos entrevistados (81,1%) tem
intenção de ter outro negócio, mesmo já possuindo um empreendimento.
Uma vez traçado o perfil dos entrevistados, passa-se à análise estatística multivariada
dos dados, no item 4.2.
4.2 Perfil empreendedor
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Neste ponto, foram realizadas análises de estatística multivariada para identificar
fatores e correlações entre características empreendedoras.
Todos os entrevistados responderam à totalidade das questões, portanto, não houve a
existência de dados ausentes (missing), sendo utilizadas as respostas de todos os
empreendedores para a análise estatística.
Devido à grande quantidade de variáveis estudadas, realizou-se a Análise Fatorial
Exploratória, buscando encontrar um número menor de fatores (Hair Jr. et al., 1998). Para
isso, foi utilizado o método de extração denominado Análise dos Componentes Principais,
com rotação Varimax (máxima verossimilhança) e normalização do tipo Kaiser. Para a
definição do número de fatores, foi utilizado o critério do Eigenvalue (quantidade de variância
explicada por um fator). Valores maiores ou iguais a 1 foram considerados como
significantes. Além disso, considerou-se as variáveis que apresentaram cargas fatoriais
superiores a 0,402. A carga fatorial possibilita identificar o papel de cada variável, mostrando
ainda a correlação de cada variável com o fator. Hair et al. (1998) afirma que valores de carga
fatorial acima de 0,300 são considerados significantes. Nesta análise, considerou-se uma
carga fatorial igual ou maior que 0,402, como já afirmado.
A análise estatística apresentou um conjunto de 17 fatores, que juntos, explicam
85,78% da variância. No entanto, o estudo baseou-se em 3 fatores, devido à quantidade dos
mesmos e à relevância das variáveis envolvidas.
A Tabela 8 a seguir apresenta as variáveis aglutinadas no fator 1.
Tabela 8: Fator 1
Variável
Coeficiente
Dedicado
,754
Totalmente focado nas atividades que desenvolve
,746
Determinado e obstinado
,672
12
Proativo na tomada de decisão (tem iniciativa)
,672
Disposto a sacrificar para atingir os objetivos
,620
Persistente na resolução de problemas
,572
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Percebe-se que o fator 1 reúne variáveis que denotam uma pessoa obstinada, centrada
naquilo que deseja, que busca atingir seus objetivos, mesmo que isso envolva sacrifícios. Esse
fator poderia ser denominado como “empreendedores determinados”.
A Tabela 9 apresenta as variáveis envolvidas no fator 2.
Tabela 9: Fator 2
Variável
Coeficiente
Gosto de estar com pessoas abertas, que pensam livremente e sem restrições
,756
Eu gosto de olhar para longe, no horizonte, encaminhar
,683
Eu acho que vale a pena sonhar acordado
,587
Não convencional, cabeça aberta, pensador.
,574
Ele é adepto da adaptação a novas situações
,553
Não está em conformidade com o status quo, ou seja, o estado atual em que
está.
,544
Fonte: dados da pesquisa (2018)
O segundo fator apresentou variáveis relacionadas à mudança, buscar novas situações,
se adaptar e pensar de forma inovadora. Trata-se de um perfil de empreendedor que está
sempre em busca do novo e valoriza novas ideias, tolerando ainda situações de conflito que
possam surgir. É um perfil de empreendedor “que busca novas oportunidades”.
Já a Tabela 10 apresenta as características do terceiro fator encontrado.
Tabela 10: Fator 3
Variável
Coeficiente
13
Tenho tolerância para incertezas e falta de estrutura
,745
Tenho tolerância ao estresse e aos conflitos.
,729
Alguém que não tem medo de falhar.
,573
Fonte: dados da pesquisa (2018).
O fator 3 apresenta características de pessoas que são tolerantes à falta de estrutura,
aos conflitos e que arriscam sem medo de falhar. São pessoas centradas, que apresentam
maturidade diante de incertezas. Pode-se chamar tais empreendedores de “equilibrados”.
Nota-se assim a prevalência de uma das principais características que o empreendedor deve
desenvolver: a capacidade de assumir riscos.
Os resultados obtidos permitem concluir que as características empreendedoras mais
marcantes identificadas nos entrevistados podem ser resumidas em:
I) determinação;
II) busca por novas oportunidades e
III) equilíbrio emocional.
De forma a avaliar a consistência interna das variáveis, realizou-se o teste de
Coeficiente Alfa de Cronbach, conforme recomenda Malhotra (2001). O autor afirma que tal
coeficiente deve ser maior ou igual a 0,6000. Neste estudo, as variáveis apresentaram um
índice de 0753, demonstrando uma boa consistência interna.
Também se fez a Análise de Cluster de forma a agrupar os participantes da pesquisa
de acordo com o seu padrão de resposta (Malhotra, 2001). Foram encontradas soluções com
dois clusters.
A análise de variância mostrou que as variáveis sexo, estado civil e nível de
escolaridade apresentaram semelhanças estatisticamente significativas entre os grupos. A
Tabela 11 a seguir mostra os percentuais observados nos clusters.
14
Tabela 11: Características marcantes dos grupos
Características
Cluster 1
Cluster 2
País
México (18,1%)
México (12,6%)
Sexo
Masculino (28,3%)
Masculino (24,4%)
Estado civil
Solteiro(a) (21,3%)
Casado(a) (16,5%)
Nível educacional
Superior Completo (16,5%)
Pós-graduação (15,7%)
Renda familiar
De 3 a 5 salários mínimos (12,6%)
De 3 a 5 salários mínimos (10,2%)
Fonte: dados da pesquisa (2018).
Os resultados mostram que os clusters possuem perfis semelhantes, sendo formado em
sua maioria por homens empreendedores do xico, com renda familiar de 3 a 5 salários
mínimos. O que difere tais clusters são o estado civil (mais solteiros no cluster 1 e casados no
cluster 2) e o nível educacional, que no cluster 2 apresenta mais pessoas com pós-graduação,
sendo que no cluster 1 a maioria possui apenas a graduação (ensino superior).
Após estes resultados é possível tecer algumas considerações gerais a respeito dos
dados estudados, conforme apresentado na seção 5.
5 Considerações finais
Este estudo buscou traçar o perfil de empreendedores em localidades de quatro países
latino-americanos, no ano de 2018, de forma a identificar as características de tais
empreendedores. Para tanto, foi feita uma análise estatística descritiva e multivariada dos
dados coletados por meio de questionários aplicados aos participantes.
Os resultados mostraram que a maioria dos empreendedores são adultos (média de
36 anos), homens, casados, pós-graduados, renda pessoal e familiar de 3 a 5 salários mínimos.
A grande maioria deseja ter outro negócio próprio (81,1%), embora já sejam donos de
empreendimentos.
15
Percebeu-se que os participantes possuem como características empreendedoras,
dentre outras: uma pessoa obstinada, centrada naquilo que deseja, que busca atingir seus
objetivos, mesmo que isso envolva sacrifícios e riscos.
Empreendedores possuem grande determinação e vontade de aprender, além de
sempre buscarem inovação e estarem conectados às mudanças do mercado e da sociedade.
Desta forma, identificar suas características comportamentais é importante, de forma a
orientar outras pessoas que desejam empreender para potencializar seus esforços na busca do
que desejam. Essa é a contribuição principal do artigo.
Este tema ainda requer muitos estudos. Uma possível agenda de pesquisa futura seria a
ampliação da quantidade de participantes, ou ainda, a comparação de empreendedores que
estão iniciando um negócio com aqueles que estão certo tempo no mercado. também
uma vontade em comparar o perfil do latino-americano com o europeu, evidenciando se as
características são similares, frente aos incentivos e programas existentes.
Fica, por fim, a contribuição para que instituições atuem como agentes de fomento ao
empreendedorismo, desenvolvendo e potencializando características essenciais a um
empreendedor, contribuindo assim para o desenvolvimento da economia e do país.
Referências
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